A dada altura as coisas acontecem mais depressa ou sou eu a dar passadas mais largas e distraídas?
Reparo que não escrevo as coisas que passam e fico com aquela estranha sensação de que foram levadas numa corrente sem que as tivesse ancorado à minha memória... Perdidas? Será que preciso de um registo da minha vida para me lembrar dela? Ou é só o medo de esquecer?
Regressei há 3 meses, pouco antes do terramoto, hoje houve outro e tornei a arrepiar-me... Ao mesmo tempo acabei o meu álbum de fotografias do ano 2004, passado quase todo na Tailândia. É
tão diferente do de 2003... Este não tem paisagens... tem pessoas, caras, sorrisos, gargalhadas, rostos e abraços, olhares, tem lapsos de tempo demasiado emocionais para que um dia não venham a doer, tem uma operação cirúrgica ao interior de mim, executada em câmara lenta de Fevereiro a Dezembro. Pareço uma sobrevivente ao desfolhá-lo, porque não há quem tivesse estado lá e que o consiga ver para além da imagem... Tenho saudades.(estamos aninhados no sofá e penso que gostava que tivesses vivido tudo isto comigo... porque isto sou eu e a minha vontade é que conheças cada milímetro daquilo que sou).
Há também uma folha imaginária neste álbum... na curta vinda a Portugal, entre Agosto e Outubro. Uma fotografia imaginária de gente na praia, sarons de cores amenas misturadas com o azul do mar... Uma fotografia de palavras, conversas sobre viagens, frases distantes e cheiro a café... Está lá no meio do álbum, invisível e tão intensamente presente!
(e depois ficaste lá sem que eu me desse conta, como uma semente para germinar...)
Depois aprendi que é bom viver contos de fadas e histórias de encantar... mas que é infinitamente melhor quando elas viram realidade (tão bom como receber um vestido de noite vermelho e passar uma noite num hotel de luxo é receber um pijama de flanela e fazer um serão de chá e TV). Que a vida não precisa de ser mais complicada do que aquilo que é!
Há alturas em que nada muda, tudo permanece, dia após dia, incluindo nós próprios... incluindo o que nos entedia em nós... que também permanece, incluindo o que mais do que tudo na vida queremos que seja diferente...que também permanece... cada vez com mais insistência... e cada vez mais permanente... e impertinente... e permanente... e impertinente... e permanente... e impertinentemente permanente.
E de repente já não é.
E de repente tudo acontece... sem que nos tenhamos apercebido onde, no caminho é que mudámos de sentido!!
... e se calhar nem mudámos de sentido, olhámos apenas numa direcção diferente.
(... acho que foi de olhos vendados que olhámos... tirámos as vendas abrimos os olhos e sentimos.... olho sem poder acreditar. Sento-me no tapete vermelho, o fumo solta-se dos meus dedos e sobe não sei onde vai. Quero que isto nunca acabe!)