27.12.04

10 last days

Chegamos a Trat mais cedo que o previsto, são cerca de 4:30 da manhã e o barco que faz a travessia para Koh Chang parte às 6. Esperamos sonolentos primeiro no café, depois no cais. O barco chega, o barco parte... As pessoas estão caladas e embalam-se nos movimentos do barco e nas cores do nascer do dia. A Wei está embrulhada numa manta vermelha às riscas... está frio.
Os bangalows feitos de folha de bananeira ou bamboo... não há lugar, percorremos a praia uma e outra vez até finalmente arranjarmos sítio para ficar.
O mar espera-nos, o azul, batidos de fruta com vodka, os nossos olhos a rirem tanto... O sol, os banhos, massagem na praia... nós a despedirmo-nos... sim é também uma despedida...
De novo um barco, a Wei fica em terra porque tem medo de tubarões... Acho que não há tubarões. O barco leva-me... O Paul diz que a Twinkle é linda, que lhe lembra a sua primeira mulher, também indiana, que morreu... Morreu e deixou-lhe um desgosto para sempre. Um desgosto para sempre. Depois foi a Tailandesa, conta ele, a que lhe levou tudo o que ele tinha, dinheiro e carros, só lhe deixou a roupa do corpo. Agora vive com a empregada que era a deles. Descobriu que a beleza pode ser fatal e encontrou a pureza na simplicidade... conta ele.
O tempo parou.
Não tenho a certeza em que dimensão estou. Os peixes passam a 2 cm da minha cara como se eu pertencesse àquele meio, só quando lhes tento tocar fogem, as barracudas olham desconfiadas e os jardins de corais fazem-me ter vontade de rezar... A mim a criatura mais desprovida de fé... Fazem-me implorar, por favor faz com que eu não me esqueça deste momento em toda a minha vida. Faz com que este momento se mantenha na minha memória e me alimente nas alturas em que acho que a vida é cinzenta...
Às vezes sorrio... sorrio de muito longe, para mim prória... sorrio porque me lembro de mim a sorrir... Sorrio porque me lembro de muitos momentos como estes... em que quero agarrá-los e levá-los comigo para onde eu for, na minha memória, para o resto da minha vida. Ao mesmo tempo fico assustado porque tenho medo de não conseguir... de os esquecer... mas uma coisa é certa, vou-me sempre lembrar que houve muitos momentos na minha vida que eu quis agarrar com muita força... se calhar isso é suficiente!
O sol morre tão laranja e faz a nossa mente viajar para os outros lados do mundo juntamente com ele... a mim leva-me para Portugal, à Twinkle para a Índia, à Wei para a Austrália, à Gunda para a Alemanha. Porque é que o mundo tão depressa parece minúsculo como tão grande?
A Twinkle e a Gunda vão dormir. Eu e a Wei procuramos a festa que estava anunciada pela praia. Conhecemos o Ciaran. Regressamos à areia e falamos de como é bom voltar a ver estrelas no céu (em Bangkok não há estrelas...), ele fala do retiro de yoga que fez no Nepal, voltamos a olhar para as estrelas...
Há algo que não consigo explicar.
Estamos no barco para regressar a Trat. A Wei tira fotos aos nossos pés. Agora dorme em cima das malas, tiro-lhe uma foto. O Ciaran tira-me fotos. A Twinkle está vestida de vermelho com um pacote vermelho de pringles na mão, outra foto. E a Gunda sorri! É tão bom ver a Gunda sorrir. Não queremos deixarmo-nos ir. Tiramos fotos como se nos roubássemos uns aos outros, para dizer, quero-te comigo...
Voltamos a Bangkok.
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Lothar volta de Israel e traz algumas iguarias, jantamos em casa dele. Há uma sombra... É de novo uma despedida. Dentro de uma semana ninguém estará naquele sítio, quem sabe se nos voltamos a ver? Termo-nos encontramos desta maneira tão intensa e efémera foi uma brincadeira do destino. Mas agora olhamos nos olhos uns dos outros e não sabemos o que pensar...
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Recebemos um mail da Twinkle... resolveu fazer uma pesquisa no Google com o nome do Paul, o nosso instructor de mergulho, só para verificar se os dois records Guiness de que ele se dizia portador eram mesmo verdade... A descoberta é digna de um triller: Mr Paul Cryne é acusado de homicídio de um inglês em Pataya, uma estância turística nos arredores de Bangkok particularmente direccionada para turismo sexual!! Fotografia do senhor a depôr na esquadra incluida!!!!!
Pensar que estive a 20m de profundidade com este personagem faz-me cócegas.
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O Ciaran regressou do Cambodja mais cedo que o previsto. É o último dia dele na Tailândia.
É um dia que passa muito devagar, muito devagar. Talvez seja até um dia sem tempo.
Há algo que não consigo explicar.
Levo-o ao aeroporto e dizemos "até logo". O até logo que é tudo e de regresso dançam imagens de um sorriso que me faz sorrir...
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Estou na varanda da Wei, um pássaro amarelo saltita na árvore em frente. Bebemos demais, é tudo tão emocional que parece que choro para dentro, apesar de sorrir para eles, a Wei e o Tangui. O dia morre e morre com ele o meu tempo neste sítio e eu desespero... desespero porque quero levar tudo comigo, mais uma vez... não me quero esquecer dos sons, dos cheiros, não me quero esquecer! Quero-te levar comigo, Wei!
Não sei o que fiz para merecer isto, mas agora o avião descolou de Don Muang e uma lua amarela e grande não descola da janela do avião... sinto-me subir, perseguida pela lua e fico aterrorizada, assustada, porque ela me diz............... "não vás".
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Estão 7 C e tenho frio. Continuo a não gostar do Natal.
Não me consigo lembrar se sonhei ou se foi verdade.

Hoje um sismo desvastou tudo, não sei se o Lothar não estará no meio de escombros no SriLanka ou a Twinkle levada pelas ondas em KohPangam. Choro porque a vida é um jogo e ás vezes é demais para mim.



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